Respeito a idosos se aprende na escola
Agência de Noticias dos Direitos da Pessoa Idosa
Envelhecimento e terceira idade estão cada vez mais presentes nas salas de aula. Não são pessoas com mais de 60 que vêm sentando nos bancos de escola, mas sim crianças e adolescentes que passam a aprender no ensino formal o papel e o lugar dos idosos na sociedade de hoje.
Projetos espalhados pelo Brasil começam a incorporar aos currículos escolares reflexão sobre envelhecimento, saúde, atendimento a idosos, relacionamento entre as gerações etc. Há registros de projetos espalhados em diferentes estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Sergipe.
"Precisamos trabalhar com jovens, mudar o modelo todo, mudar a cultura, paralelamente à atenção ao idoso. Se não mudarmos a cultura com relação ao envelhecimento, daqui a alguns anos continuaremos tendo apenas medidas paliativas. E só se consegue mudar a cultura com educação", defende o gerontólogo Carlos Lima Rodrigues.
Ele coordena um dos programas governamentais mais ousados na área: o Futuridade, do governo estadual de São Paulo. Executado no âmbito da secretaria estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, uma de suas linhas de ação irá levar ensinamentos sobre envelhecimento para todas as escolas do estado, que tem a segunda maior rede pública de ensino do país: 8.872 escolas de ensino fundamental e médio, envolvendo quase 4,5 milhões de estudantes. O programa vai estar plenamente em 2009 [Leia mais sobre a iniciativa na matéria São Paulo implementa ensino sobre idosos na rede estadual].
Uma outra rede escolar, no entanto, já sentiu o impacto de levar para a sala de aula a discussão sobre idosos no contexto atual. Petrópolis, cidade na região serrana do Rio de Janeiro, está promovendo um festival de vídeos escolares com o tema "o papel do idoso na sociedade". Das 126 escolas municipais, 38 enviaram trabalhos.
Antes, porém, os alunos tiveram aulas diferenciadas, com exibição de vídeos produzidos pela TV Escola com a temática do idoso. Isso ajudou a suscitar debate e reflexão entre os estudantes, que só então prepararam roteiros e fizeram as filmagens. "O impacto foi incrível. Todas as escolas que participaram estão montando projetos de atenção ao idoso, querem que a discussão sobre eles faça parte do currículo da escola", anima-se a coordenadora do festival, Ana Lúcia Oliveira de Souza. [Mais detalhes na matéria Festival de vídeo muda relação entre estudantes e terceira idade]
Em Salvador, a Escola Municipal Pirajá da Silva, localizada no bairro da Liberdade, já realiza isoladamente desde 2004 seu projeto próprio voltado a idosos, batizado de Educação Física e a Saúde dos Idosos. Inicialmente debate-se o papel da terceira idade na sociedade atual, com apresentação de dados sobre trabalho, lazer, saúde etc. Em seguida, alunos passam a observar o tratamento dispensado a idosos de suas famílias e comunidades, com especial atenção para as questões de saúde.
"Os alunos são levados a refletir sobre sua atuação junto aos seus idosos, ou seja, trazendo o conteúdo para dentro de sua realidade familiar e comunitária", informa o blog da escola. Coordenado pelo professor de educação física Luis Carlos, o projeto promove ainda leitura do Estatuto do Idoso (abordando sua aplicação no dia-a-dia), visitas a instituições de cuidado com idosos e campanhas de arrecadação de alimentos e materiais de primeiros socorros a serem doados para entidades.
Em Aracaju, capital sergipana, o projeto “Minha Vida tem História” promove o encontro das cabeças brancas integrantes dos projetos sociais da prefeitura com alunos da rede pública. Os mais velhos contam para os jovens suas histórias de vida, que são usadas como referencial para os principais fatos que marcaram o desenvolvimento de Aracaju. A inteção é despertar nos alunos o aprendizado histórico e o respeito pelos idosos.
A iniciativa é uma parceria das secretarias municipais da Educação (Semed) e da Assistência Social e Cidadania (Semasc) e oferece aos idosos selecionados aulas sobre como falar em público e a coordenar as idéias que dizem respeito a sua própria história de vida.
Além de importante para despertar respeito pela terceira idade, esse contato constante entre as gerações é considerado essencial para preparar os mais jovens para a velhice. "A expectativa de vida aumenta cada vez mais no país. Paradoxalmente, vivemos em um mundo que não aceita a velhice e onde todos os modelos são baseados na juventude. Estes conceitos precisam ser trabalhados com jovens, na educação, para prepará-los para o futuro", resume Rodrigues.