A culpa dos familiares refere-se à sensação de abandono que os acomete, e pode ser revertida com a participação do idoso na escolha da melhor opção.
Maria Luisa Trindade Bestetti
Permanecer na própria casa é muito importante para a manutenção de vínculos, memória e pertencimento. Envelhecer no lugar – Aging in Place – refere-se a estender a capacidade funcional e a autonomia até quando for possível, garantindo a tomada de decisões para agir de acordo com desejos e necessidades. Porém, nem sempre a capacidade cognitiva acompanha a física, assim como pode haver boa cognição e o desempenho funcional depender de assistência para atividades da vida diária.
Embora ainda haja muita resistência quanto à opção por moradias institucionais, em especial por geralmente ser decisão da família e não do sujeito idoso, já está comprovado que muitos casos acabam com perdas para todos. Os cuidadores familiares estão mais difíceis em função de haver menos descendentes e da necessária realização profissional e financeira, pois todos estão envelhecendo e a longevidade tem aumentado a cada ano. Adotar o serviço de cuidadores profissionais é uma solução, mas significa aumentar o investimento no bem-estar em casa, e nem sempre será uma solução viável.
As mudanças de capacidade podem trazer limitações à autonomia, além de distúrbios do sono e recusa para o autocuidado, de acordo com a publicação da Residência Assistida Jequitibá:
O envelhecimento faz parte da vida e sua chegada promove mudanças no dia a dia de toda a família. Isso acontece pois o idoso passa a precisar de mais atenção com a saúde, com a alimentação, com o condicionamento físico e com a segurança. É uma nova realidade que demanda assistência e, muitas vezes, as famílias não estão preparadas para oferecer o suporte que o idoso precisa para ter qualidade de vida.
A culpa que muitos familiares sentem refere-se à sensação de abandono que os acomete, mas que pode ser revertida se houver a participação do idoso na escolha da melhor opção. Apontados os pontos positivos, tais como segurança e estímulo às interações sociais, os negativos pesarão menos, especialmente se for possível levar objetos importantes para manter a familiaridade na nova moradia.
Apesar dos benefícios em optar pela residência assistida, muitas famílias não se sentem confortáveis, pois acreditam estarem abandonando o familiar. Mas é o contrário, já que a mudança é o melhor caminho para prestar a assistência adequada e que ele precisa. O idoso também vai fazer novas amizades e continuar próximo dos familiares.
Enfim, a decisão de levar um parente idoso para uma moradia coletiva gera culpa nos familiares quando é feita sem a participação dele e quando não há uma frequência regular de visitas, pois essa será sua nova residência. Vista assim, torna-se mais interessante ter outros assuntos para conversar, aprendizados a compartilhar e a possibilidade de equalizar interesses, garantindo mais conforto e segurança a todos.
Maria Luisa Trindade Bestetti
Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: maria.luisa@usp.br
Fuente: Portal do Envelhecimento – 08/10/2022
https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/a-culpa-pela-decisao-de-levar-um-parente-idoso-para-uma-ilpi/