Aids na terceira idade

Jueves, 13 de Marzo de 2008

Canal: Envejecimiento y vejez

*Por Lise Morosini
ANDIPI (Agencia de noticias dos direitos da pessoa idosa)
http://www.andipi.com.br
3/3/2008.


O Ministério da Saúde adverte: apesar de a faixa etária de 50 anos e mais apresentar tendência de crescimento na epidemia da aids, a campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids de 2007, comemorado no dia 1º de dezembro,  teve como foco principal os jovens entre 14 e 24 anos, sendo as mulheres e homens homossexuais e bissexuais o seu principal público-alvo. Lançada com um boas ações de mídia, como um hot site interativo com linguagem adequada aos jovens e uma corrente virtual para o internauta demonstrar sua atitude e engajamento, a linha de ação foi adotada para ficar no ar por um mínimo de seis meses. Até lá, a intenção é fazer com que o slogan "Sua atitude tem muita força na luta contra a Aids" chegue aos quatro cantos do Brasil.

A atitude diz exatamente para onde caminha o Ministério: o  jovem e seu direito de exercer sua sexualidade e de usar o preservativo. Dados do Ministério da Saúde, indicam que, de 1980 a junho de 2007, foram notificados 474.273 casos de aids no País. Em ambos os sexos, a maior parte dos casos se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos.

Porém, e diante das informações que apontam para o crescimento da doença na população de 50 anos e mais, fica a pergunta de quando, efetivamente, o Ministério da Saúde vai despertar para o simples fato de que sexo não tem idade máxima para ser praticado. E que, tal como os jovens, pessoas idosas têm também o mesmo direito de receber informação adequada, de exercer a sua sexualidade e de usar preservativos, como bem diz o Ministério.

É estarrecedor, portanto, o fato de os idosos terem sido excluídos da comunicação oficial. Ainda mais quando se sabe que aumenta a expectativa de vida do brasileiro e que, em breve, os cabelos brancos vão dominar a paisagem brasileira. O avanço da doença sobre esta população mais fragilizada, vai necessitar de atitudes bem mais complexas do que as poucas iniciativas que os gestores da saúde pública no país têm tomado até agora.

Uma delas será a de mudar mentalidades. Os casos de infecção nessa faixa etária em sua maioria acontecem por contaminação sexual e basicamente entre heterossexuais. Há tabu em aceitar um idoso sexualmente ativo em boa parte dos lares brasileiros. Somado ao preconceito de que a população acima de 60 e mais pode preferir jogos mais interessantes para seus dias e noites do que gamão e dominó, está aí a porta aberta para o crescimento da aids.
Portanto, nunca é demais lembrar que prevenção vale para todos, não apenas para aqueles que iniciam sua vida sexual. E quem pode fazer a diferença são os profissionais de saúde que devem deixar de lado o preconceito e abordar diretamente os idosos nos postos de saúde ou emergências. Devem, também, saber que idosos não desenvolvem o quadro clássico da doença e ficar ainda mais atentos às manifestações da infecção.

Em 2004, o então presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria no Distrito Federal, Dr. Renato Maia, o crescente número de notificações de Aids entre os idosos seria um resultado de uma combinação de fatores. O maior deles seria a falta de identificação com as campanhas de orientação e prevenção da Aids, que têm sempre como foco o jovem, fazendo com que a pessoa idosa não se identifique como um doente em potencial.

Se, no ano passado, o Ministério diz que ter atitude é lutar por uma causa então está mais do que na hora de quem milita com os direitos dos idosos exigir dos governantes uma atitude mais proativa diante da epidemia que se alastra em meio a este grupo populacional. Mais do que correr atrás do prejuízo é preciso prevenir. E melhor ainda que estas medidas sejam tomadas agora enquanto a base da pirâmide não foi ainda invertida por completo e os cabelos brancos, que muitos serão, ainda podem ser mais facilmente contados e mobilizados.

*Lise Morosini é jornalista

Texto originalmente publicado no Jornal O Globo, 15/02/2008, Opinião, p.7, com o título "Erro na Saúde".